terça-feira, 16 de março de 2010


Adorei a capa da revista da Biblioteca Nacional do mês de março, alem da máteria principal, que postarei um fragmento...

Para vencer na vida
Mesmo sofrendo os horrores do tráfico negreiro e da escravidão, uma africana conseguiu comprar sua liberdade, adquirir bens e ainda abrir um processo de divórcio
Juliana Barreto Farias

A travessia do Atlântico durava mais de dois meses. Espremidos nos porões dos navios negreiros, milhares de homens, mulheres e crianças suportavam calor, sede, fome, sujeira, ataques de ratos e piolhos, surtos de sarampo ou escorbuto. Muitos não resistiam, e acabavam jogados ao mar. Mas nem mesmo tantos maus-tratos impediam o nascimento de novas vidas. Em princípios do século XIX, uma jovem africana que estava vindo para o Rio de Janeiro deu à luz em plena viagem. Foi seu filho, Manoel José da Conceição Coimbra, quem lembrou essa história muitos anos depois.

Para provar que a africana, batizada no Rio com o nome de Rita Maria da Conceição, era mesmo sua mãe, ele juntou fios de histórias que ainda guardava na memória a alguns registros escritos, como certidões de batismo, casamento e óbito. O relato – anexado ao processo que abriu em 1846, para garantir a herança materna, na Vara Cível do Rio de Janeiro – podia até parecer seco e muitas vezes impreciso. Ainda assim, reconstituía, como poucos, parte de suas experiências naquele “infame comércio” de africanos.

Rita saíra de Cabinda, no Centro-Oeste da África, ao norte do Rio Zaire. Boa parte dos negreiros que chegavam ao Rio de Janeiro vinha dessa região. Ao cruzarem o oceano, eles deixavam para trás pátria, família, casa e deuses; tinham que encarar uma nova vida numa terra desconhecida. Mas já nos “tumbeiros” (como também eram chamadas essas embarcações), começavam a formar novos laços.

A jovem africana e seu filho recém-nascido conseguiram aportar na capital do Império brasileiro. Segundo Manoel José, “chegando a esta cidade o navio em que vinham”, foram vendidos “no Valongo a Miguel José Taveira, que fez batizar a ambos por seus escravos”. Acomodados num dos armazéns que se espalhavam pela Rua do Valongo, maior entreposto de comércio escravista do país, devem ter ficado por algum tempo expostos à curiosidade dos possíveis compradores. Arrematados por um senhor português, logo receberam nomes cristãos na igreja da freguesia de Santana: Rita e Manoel José. (...)

Leia a matéria completa na edição de Março, nas bancas.


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